A escalada militar entre Israel e o Irã em junho de 2025 representa um dos pontos mais críticos do conflito já registrados entre os dois países. Israel, desde há décadas, considera o programa nuclear iraniano uma ameaça existencial, apesar das reiteradas negativas de Teerã quanto à intenção de desenvolver armas nucleares (1). O cenário atual é resultado de anos de tensão, ataques indiretos e hostilidades por meio de grupos aliados, mas nunca antes ambos os países haviam se engajado em ataques diretos de tal magnitude.
A desconfiança israelense em relação ao Irã baseia-se na percepção de que Teerã está próxima de obter armas nucleares, o que eliminaria a vantagem estratégica de Israel como o único país da região com arsenal nuclear não declarado (1). O governo de Benjamin Netanyahu, por sua vez, vinha alertando há anos sobre a necessidade de impedir o avanço do programa nuclear iraniano, argumentando que a janela de oportunidade para ação estava se fechando.
Por outro lado, o Irã insiste que seu programa nuclear é pacífico e destinado à geração de energia, conforme previsto no Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), do qual é signatário (1). No entanto, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) apontou, em relatório recente, que o Irã não cumpriu plenamente suas obrigações de inspeção, acusação que Teerã rejeita veementemente.
A relação entre os dois países é ainda mais complicada pelo fato de que ambos possuem alianças e redes de influência em toda a região. Israel conta com o apoio incondicional dos Estados Unidos, que não só fornece armas e tecnologia militar, mas também protege Israel de condenações internacionais, principalmente no Conselho de Segurança da ONU (1). O Irã, por sua vez, mantém laços estreitos com grupos como o Hezbollah (Líbano), milícias iraquianas e os Houthis (Iêmen), além de ter relações estratégicas com a Síria e a Rússia.
O Início dos Ataques: Israel Ataca Alvos Estratégicos no Irã
No início de junho de 2025, Israel iniciou uma campanha aérea sem precedentes contra o Irã, visando principalmente instalações nucleares, centros de produção de mísseis e lideranças militares e científicas do país (2)(3). O ataque foi anunciado pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que declarou que a operação continuaria “por quantos dias forem necessários para remover a ameaça iraniana” (2).
Os alvos israelenses incluíram:
- Complexo de Enriquecimento de Natanz (Província de Esfahan): o principal centro de enriquecimento de urânio do Irã, considerado crucial para o programa nuclear do país (4)(2).
- Diversos bairros e instalações em Teerã: Nobonyad Street, Lavizan, Jahan Koudak Tower, Farahzad, Amir Abad, Andarzgou e Langari Street, além do complexo Asatid-e Sarv (2). Esses locais abrigavam instalações militares, centros de pesquisa nuclear e residências de líderes militares e cientistas.
- Cidades de Tabriz e Shiraz: alvos militares e estratégicos nas periferias dessas cidades também foram atingidos, segundo a mídia estatal iraniana (4)(5).
Além dos ataques a instalações, Israel realizou operações de assassinato seletivo contra líderes militares e cientistas nucleares iranianos. Entre os mortos estavam:
- Major General Mohammad Bagheri: chefe do Estado-Maior das Forças Armadas iranianas (2)(6).
- Major General Hossein Salami: comandante do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC) (2)(6).
- General Gholam Ali Rashid: comandante da Sede Central Khatam ol Anbia (2)(6).
- Fereydoon Abbasi: ex-chefe da Organização de Energia Atômica do Irã e renomado cientista nuclear (3)(2).
- Mohammad Mehdi Tehranchi: físico e presidente da Universidade Azad Islâmica (3)(2).
Imagens divulgadas em redes sociais mostraram prédios destruídos em Teerã, sugerindo que Israel realizou ataques precisos e letais contra alvos específicos (2). O assessor do líder supremo, Ali Shamkhani, também foi atingido e encontrado em estado crítico (2).
Reação do Irã: Retaliação e Declarações de Lideranças
A resposta iraniana foi rápida e contundente. O líder supremo, Ali Khamenei, advertiu que Israel enfrentaria um destino “amargo e doloroso” e prometeu que a “força formidável das Forças Armadas da República Islâmica garantiria que Israel não escapasse do castigo” (3). Khamenei acusou Israel de “desencadear sua mão suja e sangrenta para cometer um crime contra o Irã”, afirmando que ataques a áreas civis expuseram o caráter “maligno” do regime israelense (3).
No mesmo dia dos ataques israelenses, o Irã lançou dezenas de mísseis balísticos contra Israel, seguidos por uma segunda onda de foguetes e drones (7)(5). Segundo fontes militares israelenses, menos de 100 foguetes foram disparados em duas ondas, a maioria dos quais foi interceptada ou caiu longe dos alvos, causando danos limitados, principalmente por estilhaços de interceptação (7)(5). O porta-voz da IDF informou que a população poderia sair dos abrigos, mas deveria permanecer próxima a eles em todas as regiões do país (7).
O porta-voz das forças armadas iranianas, Abolfazl Shekarchi, afirmou que Israel pagaria um “preço alto” por suas ações (3). O Irã também enviou uma onda de drones contra Israel, que sobrevoaram o espaço aéreo da Jordânia e do Iraque antes de serem interceptados fora do território israelense (6).
Envolvimento dos Estados Unidos e Outros Atores Internacionais
Os Estados Unidos desempenharam um papel importante no conflito, embora tenham negado participação direta nas operações israelenses. O presidente Donald Trump conversou com Benjamin Netanyahu e reiterou o apoio dos EUA a Israel, afirmando que o ataque israelense foi “muito bem-sucedido” e que ajudariam a defender Israel caso o Irã retaliasse (4)(7). Trump também sugeriu que as ações israelenses poderiam pressionar o Irã a retornar à mesa de negociações (4).
Fontes do governo americano afirmaram à imprensa que os EUA não participaram do planejamento ou execução dos ataques israelenses, mas auxiliaram na interceptação de mísseis e drones iranianos direcionados a Israel (4)(7). Dois destróieres, incluindo o USS Thomas Hudner, foram reposicionados para o Mediterrâneo Oriental como precaução (7). Atualmente, nove navios da Marinha dos EUA patrulham o Oriente Médio (7).
O governo Trump havia imposto um ultimato de 60 dias para negociações sobre o acordo nuclear com o Irã, que expirou na véspera dos ataques (4)(5). O embaixador de Israel em Washington afirmou que Israel está comprometido em impedir um programa de armas nucleares iraniano (4).
Outros países, como Canadá e Reino Unido, pediram desescalada. O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, instou todas as partes a “reduzirem tensões urgentemente”, alertando que a escalada não serve a ninguém (6). O Canadá recomendou cautela aos seus cidadãos no Oriente Médio (6).
Impacto Militar e Civil
Os ataques israelenses causaram devastação considerável em áreas civis e militares do Irã. Imagens de prédios destruídos em Teerã circularam nas redes sociais (3)(2). Há relatos de vítimas civis, embora números oficiais não tenham sido divulgados.
A retaliação iraniana foi amplamente neutralizada pelos sistemas de defesa israelenses, mas algumas explosões foram registradas em território israelense (7)(5). Ainda assim, a escala dos ataques aumentou o temor de uma guerra regional.
Análise Estratégica: Objetivos e Limites do Conflito
Israel afirma que sua ação se destina a desmantelar o programa nuclear iraniano (1)(8). O Irã sustenta que Israel violou sua soberania e cometeu agressão contra civis (3). Analistas destacam três variáveis-chave (8):
- Limites dos objetivos israelenses — a amplitude dos ataques sugere intenção de enfraquecer liderança militar e científica iraniana (8).
- Capacidade de retaliação iraniana — mísseis e drones tiveram impacto limitado, mas o Irã pode mobilizar aliados regionais (7)(5)(8).
- Risco de escalada regional — envolvimento de EUA e outras potências eleva perigo para rotas comerciais estratégicas (8).
Perspectivas e Desdobramentos Futuros
Israel sinaliza que as operações podem continuar por dias ou semanas (2)(8). Analistas como Karim Sadjadpour observam que o impacto total pode levar anos (8). Duas leituras opostas sobre a força iraniana persistem (8):
- Irã como “tigre de papel” — pode ter superestimado sua capacidade de resposta.
- Irã reservando forças — poderia mobilizar Houthis e Hezbollah em momento de escolha.
O cenário mais provável é a continuação de hostilidades limitadas, com risco permanente de escalada (8).
Reações Internacionais e Preocupações Humanitárias
Canadá e Reino Unido pedem desescalada imediata (6). A situação dos civis é crítica em ambos os países; sirenes e abrigos marcam o cotidiano israelense, enquanto bairros de Teerã exibem destruição (3)(2). Interrupções no Estreito de Hormuz já pressionam o preço global do petróleo (8).
Considerações Finais
A guerra de junho de 2025 é um ponto de inflexão: Israel demonstrou capacidade de golpear o coração do Irã, e Teerã, mesmo contido, mostrou que pode disparar mísseis sobre Tel Aviv. O desfecho permanece incerto; a comunidade internacional apela à contenção, mas o risco de conflagração regional continua alto (6)(8).



